quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Eu vou pra vaquejada e vou levar você

A vaquejada nasceu nas pegas de bois dentro da caatinga nordestina e se popularizou como divertimento para homens que mostravam habilidade suficiente para domar o gado. O trabalho do vaqueiro, no começo, era reunir o gado no tempo de seca e conduzi-lo para onde ainda houvesse pasto verde no sertão. Estes homens se embrenhavam entre plantas acinzentadas e viam em seus próprios corpos as marcas deixadas pelos espinhos e pontas de galhos da vegetação seca. Os que se mostravam melhor adaptados à aridez e às intempéries da região foram sendo valorizados, na dúvida de quem seriam os melhores, se organizou uma disputa. Em meados da década de 40, uma vertente rude do que seria a vaquejada começou a ser praticada com assiduidade: a corrida de pé-de-mourão. A atividade baseava-se na derrubada do boi o mais próximo possível da porteira de onde saía. O risco que a dupla de vaqueiros corria era enorme, visto que um teria que derrubar e o outro pular do cavalo em movimento, e pegar o boi enquanto ainda estivesse no chão.

Um novo esporte


Sucessivas mudanças foram responsáveis pela evolução, até ser criado um regulamento que consolidou a vaquejada como uma nova modalidade esportiva. Atualmente, os participantes disputam divididos nas categorias amador e profissional. As faixas, no final da pista, têm um espaço padronizado de 10m. Cada inscrição dá direito a três bois que conferem oito, nove ou dez pontos. Estes pontos, porém, só são contabilizados se, no evento da queda, o boi levantar e deixar visível as quatro patas. Em caso de dúvida, o julgador analisa e passa a informação para o locutor para que ele anuncie os tradicionais: “Valeu o boi” ou “Zero boi”.

O uso do capacete confere bonificação a quem usa. Tecnicamente o boi não pode ser açoitado nem ter a cauda quebrada sob pena de desclassificação de quem o fizer. Os cavalos só podem correr se apresentarem os exames de anemia (doença contagiosa que prevê o sacrifício do eqüino que contraia) e mormo (zoonose grave que pode ser transmitida para o homem). O estabelecimento dessas regras deixou o esporte mais seguro, fazendo com que cada vez mais pessoas se interessassem por ele.

A mudança trouxe também um ônus muito grande, já que com a popularização, a vaquejada saiu do interior e ganhou as grandes cidades, na chegada a essas cidades, os adeptos também mudaram. O patrão, dono de fazendas, que antes ia só para assistir, já não pagava mais a um vaqueiro para que corresse e divulgasse seu nome, mas ele mesmo e seus filhos passaram a usufruir da glória e do reconhecimento trazido pelas premiações.



Negócio lucrativo

A chegada da “classe A” ao “mundo da vaquejada” mudou os parâmetros de uma prática totalmente sertaneja, comprometendo suas origens. Os próprios vaqueiros sentem o acontecido: “As mudanças trouxeram parques com estruturas altamente modernas, premiações milionárias e cavalos que custam fortunas. Já não é mais a coragem e a habilidade que contam, agora e preciso ter dinheiro para poder praticar. A vaquejada está passando por um processo de descaracterização, já que muito mais que o espetáculo de força e garra que um dia fora, é agora um grande e lucrativo negócio.” Afirma o vaqueiro cearense e juiz de direito, Djalma Benevides. A injeção de dinheiro permitiu que atitudes ilícitas e vícios perniciosos chegassem aos espaços de corrida. O monopólio dos empresários sobre os melhores vaqueiros, a limitação desse vaqueiro que passa apenas a responder o que ordena sua equipe e o consumo de drogas caras e destrutivas são exemplos destas atitudes.

E inegável, porém, que após esse crescimento, inúmeras pessoas foram beneficiadas direta ou indiretamente pelos empregos gerados na vaquejada. Fazem parte impreterivelmente do evento o locutor, o julgador, os responsáveis pelo curral, o tratador dos cavalos, o calzeiro e os ambulantes. “A tradição ligou também a vaquejada às festas de forró, é impossível pensar em vaquejada sem festa. Na estrutura de cada parque são sempre disponibilizados espaços para a realização desses eventos que se tornam cada vez mais diversificados, já que atrai públicos imensos.” Diz Phillipy Costa, responsável pelas atrações que animam a vaquejada do maior parque de João Pessoa, na Paraíba, explicando o sucesso da parceria forró-vaquejada.

Regulamentação

A seriedade com que a vaqueirama encarou durante esse tempo “a vida de gado” foi finalmente reconhecida por lei, beneficiando os que vivem da prática como vaqueiros profissionais. A Lei 10.220 de 11 de abril de 2001, assegura, entre outras coisas, que deve haver um contrato escrito entre os responsáveis pela equipe e o vaqueiro, onde devem constar cláusulas referentes à divisão de premiações, salários e indenizações em caso de invalidez ou morte. O número de vaqueiros profissionais ainda é pequeno, são cerca de 400 no Brasil, segundo o site oficial da Associação Brasileira dos Vaqueiros.

Esporte atrai mulheres

A vaquejada é marcada por um ar de masculinidade e pela idéia de que é preciso um esforço enorme para a derrubada do gado. O não conhecedor das técnicas jamais acharia viável, neste caso, a participação de mulheres no esporte. E é exatamente contrariando essa lógica e buscando cada vez mais aprimorar as estratégias de derrubada que a vaquejada conta com um número crescente de mulheres. A maneira com que elas se comportam nas competições parece proposital, é como se quisessem dizer que não perderam sua feminilidade, que não deixaram de ser mulheres quando decidiram ser vaqueiras.

A aluna do curso de Enfermagem da Unifor, Natianne Andrade, é uma das que pratica o esporte. “Comecei a correr na inauguração de uma pista em minha cidade, Morada Nova. Me convidaram para fazer uma homenagem a meu avô, já que a pista teria o nome dele. A inauguração foi em 2003, desde lá nunca parei”, afirma. Mesmo sendo uma atividade paralela, e ter um caráter de diversão, Natianne deixa claro sua paixão e a seriedade com que vê a regularização e unificação das regras para que cada vez mais a vaquejada se consolide como esporte.

Cavaleiros alados

A paixão pela vaquejada organizou-se principalmente em torno da visão coletiva de que ela faz parte da tradição e cultura do povo nordestino, que alia raça e coragem às suas atitudes. Os praticantes, por se encontrarem com certa freqüência, cultivam a sensibilidade de respeitar seus adversários e a amizade entre si. A comunidade de vaqueiros no Brasil se respeita e trata seus concorrentes como heróis. Os Cavaleiros Alados, descritos na música do ícone das toadas, Alcymar Monteiro, é reconhecido em sua maneira mais rústica trajando gibão, montado em seu cavalo, ou com todo o equipamento, exigido pelas pistas de corrida.

A Missa do Vaqueiro, na cidade de Serrita, no Pernambuco é exemplo desse orgulho. Depois de terminada a parte religiosa, onde até o padre celebra a missa encourado, as centenas de vaqueiros montam seus animais e escutam a presentação do Coral de Aboiadores de Serrita entoar a Ave Maria. O espetáculo emociona multidões. Nas pistas não é diferente. O ranking dos cinco melhores vaqueiros faz destes homens seres dignos de grande admiração no cenário da vaquejada. Neste momento, os cinco melhores vaqueiros profissionais do mundo são Neco Menezes, Adjailson Paiva, Celso Vitório, Romário Rocha e Renato de Tetê, segundo atualização recente do blog Portal Vaquejada.

Lendas são criadas em volta dos vaqueiros, como é o caso de Tetê Monteiro, que após uma saga brilhante no esporte morreu vítima de um enfarte fulimante, em uma competição, em fevereiro deste ano. Tetê conseguiu coisas que ainda hoje deixam os amantes da vaquejada boquiabertos, coisas que jamais foram imitadadas, que são marcas suas deixadas no esporte.

Um comentário:

  1. Olá minha cara,
    o seu texto não tem parágrado, tá todo blocado o que compromete muito a leitura. Além disse é necessário utilizar links e também fotos para que as potencialidades da internet sejam devidamente exploradas, ok? Seus intertítulos devem virar pequenas "coordenadas" divindindo o texto. Ao usar entrevistas, verifique se há necessidade dos verbos afirmar, dizer...em alguns casos não há. Sugira novo uso para o vídeo, com título. Vamos ajustando.

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