sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O verdadeiro som é o do vinil


Nem MP3 player, nem Ipod, o que eles desejam é escutar o velho bolachão. Na contramão das inovações tecnológicas, que mudam a cada dia o nosso modo de escutar música, existe em Fortaleza um grupo, ainda disperso, de admiradores dos discos de vinil que considera seu som o mais verdadeiro de todos.

O Long Play, também chamado de disco de vinil ou bolachão, foi uma mídia criada no inicio dos anos 1950 para a reprodução musical através de um toca-discos, visando substituir a utilização dos discos de cera, de 78 rotações. No Brasil, a substituição dos discos de vinil pelo CD iniciou no começo da década de 90.

Como os bolachões resistem numa sociedade que exige cada vez mais recursos rápidos, compactos e portáteis? O orientador administrativo Carlos Magno, que deixou de lado sua coleção no auge da invenção do CD, tenta uma explicação. “Escutei uma frase interessante certa vez; 'hoje temos mais músicas arquivadas e cada vez ouvimos menos músicas'. Então ascendeu uma luz e eu percebi que o disco de vinil você escuta ele todo. Pega o encarte, abre a capa, limpa o disco”, disse o colecionador, que é DJ do Órbita Bar nas horas vagas.

Leontino Eugênio (foto), proprietário da loja Botija Discos, especializada na venda de LP's e CD's, considerou que essa tendência pode ser uma resposta a virtualidade da vida moderna. “É muito estranho... Tudo muito informatizado, virtual demais. Acho que o vinil torna as pessoas mais humanas. O vinil faz com que as pessoas 'vejam a música'. Você ouve o disco olhando para a capa, porque a capa faz parte do conceito do álbum. Você baixa um MP3, muitas vezes você não tem o nome da música, nem a capa. Na minha concepção o disco é um objeto audiovisual. Muitos vem com um poster, capa dupla ou tripla”.

Aficionado pelos bolachões, Leontino considera o som dos LP's o mais verdadeiro. “Se você tiver um bom equipamento de som e um bom vinil, o som do LP muitas vezes é melhor do que o CD. Existem CD's bem gravados e mal gravados. Acho que tudo é válido, agora o vinil é que é o verdadeiro som, são os discos gravados na matriz analógica”.

Novos artistas também estão aderindo a utilização do vinil, por considerar um produto mais artesanal e que agrega valor ao produto lançado. A exemplo disso temos o novo disco da Wanessa Camargo, chamado DNA, que teve um número restrito de copias lançadas em vinil para divulgação do álbum.
Os irmãos Victor (foto) e Fernando Fontenele, ambos estudantes de música da Universidade Estadual do Ceará, herdaram da família os discos e mantém até hoje o hábito de escutar os bolachões. "Mesmo depois que veio o CD e muita gente deixou de escutar vinil, a gente continuou curtindo. Recebemos muitos disco dos tios, do meu pai e minha mãe e também um toca discos. Temos desde de Raul Seixas, Chico Buarque, Pink Floyd até música clássica", revelou Victor.
Fernando Fontenele considera que o som do vinil encaixa perfeitamente com o rock. “Me agrada a originalidade. O vinil tem um peso que não tem no som digital. A qualidade muda muito, até mesmo porque as bandas gravam primeiro uma guitarra, depois outro instrumento e não tem a mesma naturalidade, deixa o som muito artificial. O som do CD é muito mais limpo e isso é bom pra escutar alguns tipos de música, mas rock tem que ser sujo mesmo”, enfatizou.
Um ponto parece pacifico entre os admiradores do vinil. Enquanto o som digital, para ficar mais limpo, despreza as extremidades sonoras agudas e graves, privilegiando os sons médios, no vinil esses sons são bem definidos. “Os graves no vinil são melhores, isso todos sabem”, sintetiza Carlos Magno. O colecionador Davy Feitosa concorda. “ O som do vinil tem os graves mais expressivos do que CD ou MP3 e esse é um dos motivos para continuar apreciando os LP's”.
Os bolachões tem seu lugar em Fortaleza
O chiado dos LP's, devido o atrito da agulha com o disco, parece não incomodar os amantes dos bolachões em Fortaleza. A cidade oferece vários pontos para quem é fã dos LP's e a cada dia surgem mais. Em setembro passado Fortaleza ganhou mais um local para os apreciadores dos bolachas pretas. Foi inaugurado o Vinil Andaluz, na Rua Instituto do Ceará, próximo a faculdade de economia da Universidade Federal do Ceará. Em um ambiente agradável os amantes do vinil encontram mais uma opção para curtir os bolachões.
Já com uma certa tradição, o Bar do Vinil em Fortaleza, localizado na Parangaba, funciona às sextas e sábados e é um dos pontos de encontro dos amantes dos bolachões. A estudante de fisioterapia Luana Paula conheceu o lugar através de uma amiga. “Achei muito interessante, tem uma galera massa que frequenta. Você chega lá e pode escolher um disco do acervo para tocar, por isso rola de tudo. Vai do brega, Pinduca até Elvis Presley. Tem um salão onde você pode dançar e as mesas ficam num local rodeado por árvores e com luz ambiente. Bom que também pode esticar, o movimento começa a aumentar por volta de uma da madrugada e vai até de manhã”, lembrou com empolgação.
As noites de quinta-feira em Fortaleza, além das tradicionais caranguejadas, oferece uma opção alternativa para quem deseja escutar os bolachões. Acontece no Reggae Club o projeto "Na Ponta da Agulha", em que os DJ's Mr. Gazos (foto), Thiago Poeta e Bandit Dubwise, juntamente com convidados especiais, executam o reggae roots diretamente dos discos de vinil. "Esse projeto começou no Bar dos Cobras, perto do Dragão do Mar. Já estamos na batalha há três anos para isso dá certo. Hoje já é uma festa consolidada e o melhor é ver as pessoas curtindo",contou o DJ Mr. Gazos.

Um dos pioneiros da venda de discos em Fortaleza é o Bolacha Preta. Depois de trabalhar por anos no comércio formal, Mario Bolacha (foto) resolveu tirar seu sustento com a vendas dos disco de vinis. “Comecei minha coleção em 87, com os colegas aprendendo e conhecendo as bandas. Passa um disco aqui e outro ali e isso me despertou que dava para viver vendendo vinil. Pegava CD e trocava por LP's. Em 95, já tinha minha coleção e tentei uma loja no centro, mas não deu certo. Em 22 de maio 99 comecei o Bolacha Preta”, relembrou.
Outro ponto de encontro dos apreciadores de vinil é o Botija Discos, o proprietário Leontino falou sobre o público que costuma comprar os discos. “Temos pessoas de todas as idades, desde 15 anos até 60. Aqui vem grandes colecionadores, curiosos, garotos e também a velha guarda. Uns se apaixonam e viram colecionadores, outros veem que não é a praia deles”.


Visualizar Vinil em Fortaleza em um mapa maior


Vinil e a memória da música popular
Através das coleções particulares dos discos temos a preservação da memória da música popular, já que muitos bolachões não foram relançados em outras mídias. O baterista do Titãs, Charles Gavin, encabeça um projeto de restauração de álbuns valorosos da música brasileira que não estavam mais disponíveis e foram relançados em CD.

Atuando em Fortaleza temos o Projeto Semente das Artes, criado há 8 anos, que busca capacitar as pessoas, gerando educação e cidadania através de ações culturais. “Uma dessas ações é preservar a cultura brasileira e de carona a do mundo também. Temos mais de dois mil LP's de todos os estilos possíveis, além de fitas cassete e outras mídias. A ideia é que as pessoas escutem aqui mesmo, disponibilizamos o equipamento com amplificador e pick-up. Serve para pesquisa, estudo e também para o lazer”, explicou o coordenador Jofran Fontelles.

Inicialmente o acervo do projeto era utilizado para informar sobre os gêneros musicais que os alunos não conheciam. “Utilizávamos o arquivo para os alunos de música. Ele servia como referencial, por exemplo, os meninos que eram ligados só ao rock, começavam a entender o que era o baião com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros. A ideia agora é estar disponível para todos independente de classe, sexo ou idade. Servindo também como material de pesquisa para quem quer trabalhar a história da música”, complementou o coordenador.

As coleções particulares de vinil são de extrema importância para conservar a memória da música. Mario Bolacha, dona da Loja Bolacha Preta, cita alguns exemplos de discos que não foram relançados. “Deixa o trem partir do Ivan Lins, o primeiro disco da banda O Terço, os álbuns do Som Três, que é um jazz misturado com funk, são discos que você não vê. O mais raro que eu tenho hoje na loja é o primeiro do Alceu Valença, molhado de suor".

Do acervo do Projeto Semente das Artes, Jofran Fonteles aponta o disco Imunização Racional do Tim Maia como a maior raridade do local. "Foram produzidos na época mil LP's, temos um deles aqui no projeto. Na Europa este disco está avaliado em mil dólares".

Como cuidar adequadamente do seu disco

As coleções de discos de vinil exigem um cuidado redobrado para se manter em alto nível. Além das precauções para preservar as bolachas pretas, é necessário também um cuidado extremo com os aparelhos sonoros. “Para escutar meus discos eu uso um Receiver Gradiente modelo S95, um som da década de 80. Fica cada vez mais difícil encontrar agulha e peças de manutenção para venda. E hoje em dia poucos profissionais que consertam esses aparelhos”, disse o técnico em eletrônica Alexandre.

Com cerca de cinco mil discos disponíveis na Botija Discos, Leontino explica como deve ser o cuidado com a coleção. “Colocar os LP's numa estante em pé, um ao lado do outro e em local arejado. Limpar sempre que for ouvir, passar um paninho antes e depois de escutar. E de vez em quando lavar, se tiver muito sujo. Nunca coloque no sol, porque é claro que vai empenar”, risos.

Em relação aos cuidados com a parte gráfica dos álbuns, Jofran Fontelles alertou, “não risque a capa e não use durex. Se for restaurar tem que usar fita ou papel do mesmo material da capa que é o duplex e sempre por dentro, não usar por fora que tira a originalidade”.


3 comentários:

  1. Olá Glaydson, seu texto ficou bem bacana. Sugiro alguns ajustes. Traga o tópico Os bolachões tem seu lugar em Fortaleza para mais perto do início, seguido de opinições(esse aliás poderia vir diluído no texto principal), deixando por último Como cuidar adequadamente do seu disco. Use sempre sobrenome de todos os entrevistados. Seu texto sugere muitas imagens e não traz fotos dos lugares onde vc visitou, precisamos de uma galeria e melhor ainda de um vídeo. Boa sorte.

    ResponderExcluir
  2. Eu sou um que gosto do conhecido bolachão, tenho ate alguns la em casa. Parabens pela materia Glaydson.

    ResponderExcluir
  3. Muito boa essa matéria. Principalmente porque muitas pessoas pensam que ninguém continua usando os discos de vinil, mas o Glaydson mostrou que isso não é verdade.

    ResponderExcluir